domingo, dezembro 28, 2008
Afinal não estava tudo bem....
Aqueles testes médicos que fiz há umas semanas atrás e que diziam que tudo estava bem.... bem, não estava.
Apanhei uma virose que me deixou durante três dias de diarreia e a vomitar que nem me podia mexer. Apenas conseguia beber algum chá e água para os vomitar logo a seguir. Horrível.
Ao quarto dia, depois de ter passado a manhã a tratar dos meus queijinhos, senti que não tinha sequer forças para guiar até ao Barreiro, quanto mais ficar lá até às 23,00h. Resolvi finalmente ir ao médico. Fui de taxi, tive medo de guiar porque me sentia tonta e sem forças nas pernas. A minha mãe, sempre tão disponível, acompanhou-me. Quando lá chegamos, tratamos das inscrições e sentámo-nos à espera da vez. Tive que me levantar umas quantas vezes para ir vomitar à casa de banho mas, finalmente, lá fui atendida. A médica que me atendeu, bastante atenciosa, ouviu as minhas queixas, auscultou-me, apalpou-me a barriga, perguntou-me o que tinha comido nos últimos dias e se a pele da minha cara costumava ser assim. Eu nem tinha percebido como estava, a minha cara parecia um lagarto cheio de escamas. Ela, mandou-me ir com ela para outra sala para fazer uns exames. Eu devia estar completamente fora de mim porque não percebi que ela me tinha encaminhado para o SO. Assim que lá cheguei, deitaram-me numa maca, puseram-me a soro e tiraram-me sangue para análises. Entretanto, comecei a tossir, e pelos vistos, a minha constipação tinha um som nada agradável. A enfermeira de serviço veio ter comigo e ligou-me o dedo a uma máquina para de seguida mandar chamar a médica. Tinha apenas 82% de oxigénio, quando o normal é ter-se pelo menos 95%. Veio a médica que me tinha atendido que pediu a presença de um outro colega, que entre outras coisas me fez uma gasimetria. Dói tanto, foi horrível.
Assim que voltaram com os resultados, sentaram-se ao meu lado, com a minha irmã que entretanto tinha encontrado a minha mãe, e que lá estava para levantar uns exames, e disseram-me que tinha que ficar internada porque apenas tinha 54% de oxigénio no sangue, além de ter os níveis de potássio reduzidos a praticamente zero. Pediram-me autorização para me internarem, eu disse que sim, sabia lá o que havia de fazer.... e lá fiquei por quatro dias, a soro, com potássio e montes de antibióticos, a oxigénio e cheia de mordomias.
Tinha uma pneumonia.
Voltei para casa, fiquei de baixa por mais dez dias e apresentei-me na escola apenas na altura das avaliações. Cheguei no dia do almoço de Natal, que estava uma porcaria mas foi muito agradável porque gostei de estar aquelas duas horas a falar com muitos dos colegas e funcionários que são pessoas fabulosas. Ainda há muita gente boa nas escolas, apesar do que se diz por aí.
Na primeira reunião, fui bruta, como costumo ser. Perco a cabeça com o atraso dos meus colegas, sobretudo quando estes são os directores de turma, detesto que digam que a partir de agora as coisas se fazem assim ou assado sem fundamentar os porquês, sem conhecer a legislação e, peço sempre, que tudo aquilo com que não concordo fique em acta. Desta vez recusei-me a assinar a folha de presenças porque não tinha sequer os cabeçalhos preenchidos, pedi que ficasse em acta que me recuso a preparar os materiais dos EFA com a minha parceira de co-docência por duas razões: a primeira, porque ao contrário do que apregoam por aí, a co-docência é apenas no papel, eu dou as minhas aulas sem nenhum colega na sala para apoio e, a segunda, porque do meu horário não constam horas para preparar materiais com os colegas, as seis horas que me sobram, utilizo-as para preparar materiais para todos os anos e, não apenas para os EFA e não quero, de modo nenhum, ter que arranjar mais horas em contra horário que permitam reuniões semanais para preparar materiais que serão apenas apresentados por mim, não preciso de mais uma obrigação que me diga como devo fazer o meu trabalho.
Na segunda reunião, falei do comportamento de um aluno, maior de 18 anos, bem maior, que tem atitudes do mais incorrecto que há, tanto com professores, como com colegas. Quase todos os professores sabiam do que se passava, mas ninguém queria tomar a iniciativa de o tornar real, ninguém queria dizer e, sobretudo, deixar escrito que as atitudes deste aluno estão perto daquilo que se pode considerar agressão, quer verbal, quer física. Pois olha, não quero saber, disse-o eu. Ficou em acta que uma próxima atitude semelhante terá como consequência imediata um conselho de turma disciplinar com tudo aquilo que daí pode resultar. Senti-me bem por o ter feito mas senti-me mal por ter sido bruta e ter escolhido mal algumas as palavras utilizadas, assim como por me ter exaltado. Perde-se a razão quando se exalta e eu devia saber melhor dominar este feitiozinho que tenho.
As restantes reuniões correram muito bem, tudo sem sobressaltos, mesmo as complicações inerentes às turmas resolveram-se sem conttratempos e de forma bastante eficaz.
Depois fui ver a minha horta que continua a dar morangos, ainda não pararam de nascer desde que os plantei em Março, maravilha. As alfaces e as couves pediam água há muito e os pimentos não tinham praticamente crescido apesar de continuarem bastante viçosos. Reguei, arranquei algumas ervas daninhas e finalmente vim-me embora para gozar uns dias de paz e descanso com os meus queijinhos.
Apanhei uma virose que me deixou durante três dias de diarreia e a vomitar que nem me podia mexer. Apenas conseguia beber algum chá e água para os vomitar logo a seguir. Horrível.
Ao quarto dia, depois de ter passado a manhã a tratar dos meus queijinhos, senti que não tinha sequer forças para guiar até ao Barreiro, quanto mais ficar lá até às 23,00h. Resolvi finalmente ir ao médico. Fui de taxi, tive medo de guiar porque me sentia tonta e sem forças nas pernas. A minha mãe, sempre tão disponível, acompanhou-me. Quando lá chegamos, tratamos das inscrições e sentámo-nos à espera da vez. Tive que me levantar umas quantas vezes para ir vomitar à casa de banho mas, finalmente, lá fui atendida. A médica que me atendeu, bastante atenciosa, ouviu as minhas queixas, auscultou-me, apalpou-me a barriga, perguntou-me o que tinha comido nos últimos dias e se a pele da minha cara costumava ser assim. Eu nem tinha percebido como estava, a minha cara parecia um lagarto cheio de escamas. Ela, mandou-me ir com ela para outra sala para fazer uns exames. Eu devia estar completamente fora de mim porque não percebi que ela me tinha encaminhado para o SO. Assim que lá cheguei, deitaram-me numa maca, puseram-me a soro e tiraram-me sangue para análises. Entretanto, comecei a tossir, e pelos vistos, a minha constipação tinha um som nada agradável. A enfermeira de serviço veio ter comigo e ligou-me o dedo a uma máquina para de seguida mandar chamar a médica. Tinha apenas 82% de oxigénio, quando o normal é ter-se pelo menos 95%. Veio a médica que me tinha atendido que pediu a presença de um outro colega, que entre outras coisas me fez uma gasimetria. Dói tanto, foi horrível.
Assim que voltaram com os resultados, sentaram-se ao meu lado, com a minha irmã que entretanto tinha encontrado a minha mãe, e que lá estava para levantar uns exames, e disseram-me que tinha que ficar internada porque apenas tinha 54% de oxigénio no sangue, além de ter os níveis de potássio reduzidos a praticamente zero. Pediram-me autorização para me internarem, eu disse que sim, sabia lá o que havia de fazer.... e lá fiquei por quatro dias, a soro, com potássio e montes de antibióticos, a oxigénio e cheia de mordomias.
Tinha uma pneumonia.
Voltei para casa, fiquei de baixa por mais dez dias e apresentei-me na escola apenas na altura das avaliações. Cheguei no dia do almoço de Natal, que estava uma porcaria mas foi muito agradável porque gostei de estar aquelas duas horas a falar com muitos dos colegas e funcionários que são pessoas fabulosas. Ainda há muita gente boa nas escolas, apesar do que se diz por aí.
Na primeira reunião, fui bruta, como costumo ser. Perco a cabeça com o atraso dos meus colegas, sobretudo quando estes são os directores de turma, detesto que digam que a partir de agora as coisas se fazem assim ou assado sem fundamentar os porquês, sem conhecer a legislação e, peço sempre, que tudo aquilo com que não concordo fique em acta. Desta vez recusei-me a assinar a folha de presenças porque não tinha sequer os cabeçalhos preenchidos, pedi que ficasse em acta que me recuso a preparar os materiais dos EFA com a minha parceira de co-docência por duas razões: a primeira, porque ao contrário do que apregoam por aí, a co-docência é apenas no papel, eu dou as minhas aulas sem nenhum colega na sala para apoio e, a segunda, porque do meu horário não constam horas para preparar materiais com os colegas, as seis horas que me sobram, utilizo-as para preparar materiais para todos os anos e, não apenas para os EFA e não quero, de modo nenhum, ter que arranjar mais horas em contra horário que permitam reuniões semanais para preparar materiais que serão apenas apresentados por mim, não preciso de mais uma obrigação que me diga como devo fazer o meu trabalho.
Na segunda reunião, falei do comportamento de um aluno, maior de 18 anos, bem maior, que tem atitudes do mais incorrecto que há, tanto com professores, como com colegas. Quase todos os professores sabiam do que se passava, mas ninguém queria tomar a iniciativa de o tornar real, ninguém queria dizer e, sobretudo, deixar escrito que as atitudes deste aluno estão perto daquilo que se pode considerar agressão, quer verbal, quer física. Pois olha, não quero saber, disse-o eu. Ficou em acta que uma próxima atitude semelhante terá como consequência imediata um conselho de turma disciplinar com tudo aquilo que daí pode resultar. Senti-me bem por o ter feito mas senti-me mal por ter sido bruta e ter escolhido mal algumas as palavras utilizadas, assim como por me ter exaltado. Perde-se a razão quando se exalta e eu devia saber melhor dominar este feitiozinho que tenho.
As restantes reuniões correram muito bem, tudo sem sobressaltos, mesmo as complicações inerentes às turmas resolveram-se sem conttratempos e de forma bastante eficaz.
Depois fui ver a minha horta que continua a dar morangos, ainda não pararam de nascer desde que os plantei em Março, maravilha. As alfaces e as couves pediam água há muito e os pimentos não tinham praticamente crescido apesar de continuarem bastante viçosos. Reguei, arranquei algumas ervas daninhas e finalmente vim-me embora para gozar uns dias de paz e descanso com os meus queijinhos.
domingo, dezembro 07, 2008
sexta-feira, dezembro 05, 2008
Não sei porquê este exagero sobre o ensino....
Hoje, sexta-feira, apetecia-me faltar à escola.
Nada que não seja de esperar, afinal sou professora e, como muito bem se sabe, pertenço a uma classe que não faz, nem nunca fez nada! Nós, os professores, gostamos é de fazer greves, porque não queremos ser avaliados, manifestações que prejudicam o trânsito de Lisboa, chateiam toda a gente e só servem para causar incómodos às pessoas que, coitadinhas, nem percebem o porquê desta parvoíce nossa. Afinal elas, as pessoas, também são avaliadas nos seus empregos, não percebem porque é que nós, os professores, não queremos ser avaliados.
Primeiro era esta avaliação que estava errada. Agora, a ministra até veio dizer que a avaliação podia ser simplificada, as escolas e os professores é que complicam tudo, não percebem, nem sabem fazer as coisas simples, são uns complicados. Nós, os complicados, confusos e ignorantes professores que não percebemos, mesmo assim fizemos uma greve que só pode ter tido um único motivo por trás: Chatear as pessoas!
Coitadinhos dos pais, chegaram tarde aos empregos, veja-se lá que alguns até tiveram que levar os filhos de quinze anos, de carro, para casa! E atrasaram-se! E agora? Quem lhes paga o tempo perdido? São esses incompetentes dos professores? Não são, pois não?
Veja-se lá se cabe na cabeça de alguém, os pais terem que esperar mais do que um quarto de hora para que da escola lhes dissessem se o professor que dava aula ao seu filho daí a quatro horas estava ou não estava a fazer greve! Isto não é possível! Os parvos dos professores não avisaram os alunos, nem os encarregados de educação de que iam fazer greve. Isto não pode ser!
Por nossa causa, a pobre da ministra, foi chamada à Assembleia da República. Veja-se bem! E esses deputadozecos, que não sei para que servem, outra cambada de incompetentes que só servem para gastar dinheiro ao Estado, tiveram a lata de a questionar, de pôr em causa a decisão de não suspender esta avaliação. Ela até já reconheceu que a avaliação tem coisas erradas, já disse que pode e deve ser simplificada. Até disse, vejam bem, que os professores avaliadores agora só precisam de ser avaliados pelo Conselho Executivo, diminui imenso a burocracia do processo. Não percebo o que é que nós, os professores, não percebemos. Mas vou tentar explicar aquilo que acho que percebo.Tem que ser de uma maneira muito simplista porque, como professora, não tenho competência para mais, obviamente!
Eu tenho (faz de conta), 42 anos, dezoito anos de serviço, uma média de catorze valores no meu curso e tive sempre horários completos de 22 horas lectivas. Dei durante esses anos, todas as disciplina existentes no meu grupo, do 7º ao 12º anos. Preparei alunos para todo o tipo de exames de escola ou exames nacionais.
Tu (faz de conta) também tens, 42 anos, fazemos anos no mesmo dia, vê lá. Tens dezoito anos de serviço, a tua média até é igual à minha mas, estavas numa escola mais pequenina do que a minha. Não se conseguia ter horários completos para ti. Então todos os anos tiveste, 15 horas lectivas, uma direcção de turma (faz mais 2 horas) e 5 horas de cargos para completar o teu horário de 22 horas. Foste coordenadora de grupo, sub-coordenadora de grupo, directora de instalações, vice-presidente do Conselho Executivo, assessora do Conselho Executivo, Presidente do Conselho Pedagógico, coordenadora do 3º ciclo no nosso grupo disciplinar e outros que agora já não me lembro. Nunca tiveste que preparar alunos para qualquer tipo de prova final de escola ou nacional.
Concorremos as duas a professoras titulares. Espanto, os cargos dão pontos, tu entraste e eu não. Obviamente que, como a Ministra diz, esse facto confere-te muito mais competência do que a mim! Obviamente, que tu, durante o teu percurso como professora demonstraste ser uma professora de élite, bem preparada, com capacidades extraordinárias que te vão, agora, permitir progredires até atingires o topo da carreira de Professor Titular. Também é claro como água, que eu não demostrei nada disso ao longo do meu percurso. A minha competência como professora ainda é duvidosa depois destes anos todos. E, por isso, como muito bem a ministra diz, eu tenho que ser avaliado pelo Conselho Executivo, tal como tu mas, apenas eu, incompetente até dar provas em contrário, serei avaliada por ti! Acho que já percebi!!!.... Claro que a Ministra tem razão!
Mas há uma coisa que continua a confundir-me. Todos me dizem que nos seus trabalhos são avaliados, principalmente no que se refere aos resultados. A Ministra também me diz que me quer avaliar relativamente aos resultados. Como é que funciona nos vossos empregos? Sabem, é que para nós, os professores incompetentes que têm medo da avaliação, avaliar os resultados significa várias coisas. A saber:
- Abandono escolar (eu sou responsável por todos os alunos que, inscritos nas minhas turmas no início do ano, abandonam a escola. Aqui, no meu caso específico, encontram-se as dezenas de formandos do Ensino Nocturno EFA - Educação e Formação de Adultos, do Programa Novas Oportunidades, que se inscrevem e se mantém na escola apenas e até terem acesso à password que lhes permite comprar um computador portátil por 150 euros! Não posso progredir na carreira porque não soube manter estes formandos na escola!) Qual é o parâmetro da vossa avaliação equivalente a este? Elucidam-me, por favor.
- Resultados esperados dos alunos (Aqui leia-se: Ao fim de cerca de um mês de conhecer os meus alunos, tenho que pôr nos meus objectivos a percentagem de sucesso esperada, face ao conhecimento, com certeza, muito profundo que eu já adquiri deles. Essa percentagem não percebo como se faz. Sabem, é que eu sou uma professorazeca incompetente, desabituada do trabalho e, não percebo como é que eu, ao fim de um mês, consigo calcular quem vai passar e quem vai chumbar, quem vai ficar e quem vai abandonar a escola. E se essa percentagem é possível obter ao fim de um mês, então porque é que passamos mais oito meses a dar aulas? Só pode ser para gastar dinheiro dos contribuintes. Noutro emprego qualquer, obviamente que o aluno transitaria imediatamente para o nível seguinte!) Como são avaliados os resultados nos vossos empregos? Como são feitos os parâmetros para avaliar os resultados nos vossos empregos? Elucidam-me, por favor.
E mais, muito mais.... mas isso sou eu que sou torta, professora dum catano!!!
Nós devíamos era ir todos para a rua. Professores, titulares ou não. Não dizem que há por aí tanto professor desempregado? Pois bem, ponham esses incompetentes, complicados, grevistas no olho da rua para verem como é que a vaca tosse. Contratem os desempregados, saem muito mais barato ao Estado. Eram mais de 120 000 novos empregos. Muitos deles primeiro emprego. Bruxelas haveria de gostar destes números de aumento de emprego em plena crise. E com a facilidade com que se molda a estatística no Governo, o número dos professores desempregados, facilmente se transformariam noutra coisa qualquer que não teria que ser contabilizado. Portugal passaria com certeza a ser olhado como exemplo pelos outros parceiros da União Europeia.
Nós, os professores, merecemos mesmo tudo aquilo que dizem de nós porque NÓS, não queremos ser avaliados! Estamos há anos a roçar o rabo pelas paredes e já não sabemos fazer outra coisa. Trabalho que é bom, façam-no os outros, os pais deste país, que coitados, são tão prejudicados por nós.
Aliás a crise também é culpa nossa, só pode. O Governo é que ainda não fez uma reunião extraordinária para atribuição formal de culpas.
Nada que não seja de esperar, afinal sou professora e, como muito bem se sabe, pertenço a uma classe que não faz, nem nunca fez nada! Nós, os professores, gostamos é de fazer greves, porque não queremos ser avaliados, manifestações que prejudicam o trânsito de Lisboa, chateiam toda a gente e só servem para causar incómodos às pessoas que, coitadinhas, nem percebem o porquê desta parvoíce nossa. Afinal elas, as pessoas, também são avaliadas nos seus empregos, não percebem porque é que nós, os professores, não queremos ser avaliados.
Primeiro era esta avaliação que estava errada. Agora, a ministra até veio dizer que a avaliação podia ser simplificada, as escolas e os professores é que complicam tudo, não percebem, nem sabem fazer as coisas simples, são uns complicados. Nós, os complicados, confusos e ignorantes professores que não percebemos, mesmo assim fizemos uma greve que só pode ter tido um único motivo por trás: Chatear as pessoas!
Coitadinhos dos pais, chegaram tarde aos empregos, veja-se lá que alguns até tiveram que levar os filhos de quinze anos, de carro, para casa! E atrasaram-se! E agora? Quem lhes paga o tempo perdido? São esses incompetentes dos professores? Não são, pois não?
Veja-se lá se cabe na cabeça de alguém, os pais terem que esperar mais do que um quarto de hora para que da escola lhes dissessem se o professor que dava aula ao seu filho daí a quatro horas estava ou não estava a fazer greve! Isto não é possível! Os parvos dos professores não avisaram os alunos, nem os encarregados de educação de que iam fazer greve. Isto não pode ser!
Por nossa causa, a pobre da ministra, foi chamada à Assembleia da República. Veja-se bem! E esses deputadozecos, que não sei para que servem, outra cambada de incompetentes que só servem para gastar dinheiro ao Estado, tiveram a lata de a questionar, de pôr em causa a decisão de não suspender esta avaliação. Ela até já reconheceu que a avaliação tem coisas erradas, já disse que pode e deve ser simplificada. Até disse, vejam bem, que os professores avaliadores agora só precisam de ser avaliados pelo Conselho Executivo, diminui imenso a burocracia do processo. Não percebo o que é que nós, os professores, não percebemos. Mas vou tentar explicar aquilo que acho que percebo.Tem que ser de uma maneira muito simplista porque, como professora, não tenho competência para mais, obviamente!
Eu tenho (faz de conta), 42 anos, dezoito anos de serviço, uma média de catorze valores no meu curso e tive sempre horários completos de 22 horas lectivas. Dei durante esses anos, todas as disciplina existentes no meu grupo, do 7º ao 12º anos. Preparei alunos para todo o tipo de exames de escola ou exames nacionais.
Tu (faz de conta) também tens, 42 anos, fazemos anos no mesmo dia, vê lá. Tens dezoito anos de serviço, a tua média até é igual à minha mas, estavas numa escola mais pequenina do que a minha. Não se conseguia ter horários completos para ti. Então todos os anos tiveste, 15 horas lectivas, uma direcção de turma (faz mais 2 horas) e 5 horas de cargos para completar o teu horário de 22 horas. Foste coordenadora de grupo, sub-coordenadora de grupo, directora de instalações, vice-presidente do Conselho Executivo, assessora do Conselho Executivo, Presidente do Conselho Pedagógico, coordenadora do 3º ciclo no nosso grupo disciplinar e outros que agora já não me lembro. Nunca tiveste que preparar alunos para qualquer tipo de prova final de escola ou nacional.
Concorremos as duas a professoras titulares. Espanto, os cargos dão pontos, tu entraste e eu não. Obviamente que, como a Ministra diz, esse facto confere-te muito mais competência do que a mim! Obviamente, que tu, durante o teu percurso como professora demonstraste ser uma professora de élite, bem preparada, com capacidades extraordinárias que te vão, agora, permitir progredires até atingires o topo da carreira de Professor Titular. Também é claro como água, que eu não demostrei nada disso ao longo do meu percurso. A minha competência como professora ainda é duvidosa depois destes anos todos. E, por isso, como muito bem a ministra diz, eu tenho que ser avaliado pelo Conselho Executivo, tal como tu mas, apenas eu, incompetente até dar provas em contrário, serei avaliada por ti! Acho que já percebi!!!.... Claro que a Ministra tem razão!
Mas há uma coisa que continua a confundir-me. Todos me dizem que nos seus trabalhos são avaliados, principalmente no que se refere aos resultados. A Ministra também me diz que me quer avaliar relativamente aos resultados. Como é que funciona nos vossos empregos? Sabem, é que para nós, os professores incompetentes que têm medo da avaliação, avaliar os resultados significa várias coisas. A saber:
- Abandono escolar (eu sou responsável por todos os alunos que, inscritos nas minhas turmas no início do ano, abandonam a escola. Aqui, no meu caso específico, encontram-se as dezenas de formandos do Ensino Nocturno EFA - Educação e Formação de Adultos, do Programa Novas Oportunidades, que se inscrevem e se mantém na escola apenas e até terem acesso à password que lhes permite comprar um computador portátil por 150 euros! Não posso progredir na carreira porque não soube manter estes formandos na escola!) Qual é o parâmetro da vossa avaliação equivalente a este? Elucidam-me, por favor.
- Resultados esperados dos alunos (Aqui leia-se: Ao fim de cerca de um mês de conhecer os meus alunos, tenho que pôr nos meus objectivos a percentagem de sucesso esperada, face ao conhecimento, com certeza, muito profundo que eu já adquiri deles. Essa percentagem não percebo como se faz. Sabem, é que eu sou uma professorazeca incompetente, desabituada do trabalho e, não percebo como é que eu, ao fim de um mês, consigo calcular quem vai passar e quem vai chumbar, quem vai ficar e quem vai abandonar a escola. E se essa percentagem é possível obter ao fim de um mês, então porque é que passamos mais oito meses a dar aulas? Só pode ser para gastar dinheiro dos contribuintes. Noutro emprego qualquer, obviamente que o aluno transitaria imediatamente para o nível seguinte!) Como são avaliados os resultados nos vossos empregos? Como são feitos os parâmetros para avaliar os resultados nos vossos empregos? Elucidam-me, por favor.
E mais, muito mais.... mas isso sou eu que sou torta, professora dum catano!!!
Nós devíamos era ir todos para a rua. Professores, titulares ou não. Não dizem que há por aí tanto professor desempregado? Pois bem, ponham esses incompetentes, complicados, grevistas no olho da rua para verem como é que a vaca tosse. Contratem os desempregados, saem muito mais barato ao Estado. Eram mais de 120 000 novos empregos. Muitos deles primeiro emprego. Bruxelas haveria de gostar destes números de aumento de emprego em plena crise. E com a facilidade com que se molda a estatística no Governo, o número dos professores desempregados, facilmente se transformariam noutra coisa qualquer que não teria que ser contabilizado. Portugal passaria com certeza a ser olhado como exemplo pelos outros parceiros da União Europeia.
Nós, os professores, merecemos mesmo tudo aquilo que dizem de nós porque NÓS, não queremos ser avaliados! Estamos há anos a roçar o rabo pelas paredes e já não sabemos fazer outra coisa. Trabalho que é bom, façam-no os outros, os pais deste país, que coitados, são tão prejudicados por nós.
Aliás a crise também é culpa nossa, só pode. O Governo é que ainda não fez uma reunião extraordinária para atribuição formal de culpas.
quinta-feira, dezembro 04, 2008
Greve de Professores
Barreiro
3 de Dezembro
Escola Secundária de Santo André
Número de aderentes: Em 150 professores, 10 compareceram às aulas. Outros tantos poderão ter faltado por outros motivos. Parece-me um número bastante mais perto dos 90% do que dos 61% do sr. Valter Lemos. Considerando que esta é uma escola onde a aderência à greve tem sido sempre muito baixa, digam-me lá, sra. ministra e secretários onde vão vocês buscar os vossos dados estatísticos? Sabem, é que dava-me jeito conseguir manipular assim os resultados dos meus alunos.
(Estes números são de minha inteira responsabilidade e não correspondem, de modo algum, a números contabilizados na secretaria da escola. Apresento-os através de observação minha e especulação sobre professores ausentes por outras razões.
Gabriela Bruno)
3 de Dezembro
Escola Secundária de Santo André
Número de aderentes: Em 150 professores, 10 compareceram às aulas. Outros tantos poderão ter faltado por outros motivos. Parece-me um número bastante mais perto dos 90% do que dos 61% do sr. Valter Lemos. Considerando que esta é uma escola onde a aderência à greve tem sido sempre muito baixa, digam-me lá, sra. ministra e secretários onde vão vocês buscar os vossos dados estatísticos? Sabem, é que dava-me jeito conseguir manipular assim os resultados dos meus alunos.
(Estes números são de minha inteira responsabilidade e não correspondem, de modo algum, a números contabilizados na secretaria da escola. Apresento-os através de observação minha e especulação sobre professores ausentes por outras razões.
Gabriela Bruno)
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