E acabou-se! Já percebi porque não fiquei colocada novamente na Escola Secundária do Pinhal Novo, apesar de ainda estarem dois horários e meio sem professor atribuido. O sistema de colocações de professores funciona, de facto, muito mal. As escolas têm que mandar para o ministério as suas necessidades de professores para o ano lectivo seguinte, que variam sempre em função do número de alunos e da oferta de cursos que a escola abre. Só podem abrir lugares para concurso de efectivos de escola se essas necessidades forem reais para qualquer ano escolar e, aqui começa a perversidade do sistema.
Primeira perversidade:
Os cursos alternativos que as escolas vão abrindo para diminuir a taxa de insucesso e abandono escolar (CEFs e Cursos Profissionais), apesar de poderem existir SEMPRE em determinada escola não contam para as necessidades reais da escola. Assim, quando uma escola se situa numa zona mais carenciada ou onde a população é maioritariamente do campo, onde a escolaridade não é prioridade das famílias, esta fica à partida em desvantagem relativamente a outras. A oferta de cursos, que terá que ser feita em certas zonas do país, não permite que sejam colocados professores efectivos, que se envolvam na escolaridade dos alunos e, que por isso, os preparem melhor para a vida activa. Aqui a realidade que a sra ministra quer para as escolas portuguesas deixa de existir: Não interessa que os professores pertençam à escola! Pode haver mobilidade de professores porque os percursos são alternativos! Treta!...
Segunda perversidade:
Os horários, que não foram preenchidos na primeira parte do concurso, porque o sistema não o permitiu são novamente mandados para concurso como necessidades residuais da escola, ou seja, necessidades apenas desse ano lectivo. Na minha escola, porque a oferta de cursos é grande, existiam, no meu grupo disciplinar, seis horários completos mais um incompleto. Estavamos colocados na escola cinco Quadros de Zona Pedagógica. Um dos professores ficou efectivo como quadro de escola e sobramos quatro que queríamos permanecer na escola para acompanhar as turmas que tinhamos tido no ano escolar anterior, bem como, para prosseguir os projectos que entretanto tinhamos iniciado. Os horários foram feitos de acordo com as continuidades de turmas, todos nós iriamos acompanhar as nossas turmas no ano lectivo que agora se vai iniciar. Mas... o sistema apenas permite que se enviem TRÊS horários para concurso, porque se existem mais, então a escola deveria ter aberto concurso para efectivar os professores de que necessita (que não podia porque o sistema assim o diz). Se existirem mais do que três horários, estes só poderão ser enviados para concurso, desde que devidamente justificados. Nesta escola os horários sobrantes estavam mais do que justificados com a existência dos cursos que a escola oferece.
Terceira perversidade:
Apesar de os cursos que a maioria das escola oferece abrirem todos os anos e terem as turmas cheias desde Julho, porque os alunos já se inscreveram, a sua aprovação apenas chega às escolas no final do mês de Agosto. Como as necessidades residuais de escola têm que ser enviadas até 8 de Agosto, a justificação da existência de mais do que três horários num grupo disciplinar porque a oferta de escola é maior, deixa de ser válida.
Com isto o sistema permite que se guardem horários na gaveta que serão atribuidos a professores menos graduados, durante as colocações cíclicas anuais, que teoricamente, existem para colmatar situações temporárias, como sejam, licenças de maternidade e amamentação, doença prolongada, sabáticas, reduções por estágio... E, como em todo o lado, também aqui, existirão Conselhos Executivos, que guardarão horários porque o filho do amigo do namorado da filha acabou o curso há dois anos e de outra forma não ficaria colocado!
Mais de dois mil horários ficaram na gaveta nestas condições! Merda para o sistema!
Só mais uma coisinha.
A minha cara sra ministra, de quem todos dizem bem, que veio pôr ordem no sistema de ensino e veio obrigar esta cambada, à qual eu pertenço, a trabalhar diz com a boca toda cheia, que é necessário dar estabilidade às famílias, os professores têm que ficar afectos às escolas para darem continuidade aos projectos de turma e de escola. Nós, os professores, podemos ficar mais longe de casa, por três anos seguidos, porque não devemos ter o direito de ter família, concerteza. Quem vai dar apoio aos meus três filhos enquanto eu perco horas escusadas em transportes para o meu local de trabalho? Onde está a estabilidade das famílias como a da PA que não ficou colocada? Os horários existem, porque não está ela colocada ainda? Como organiza o início do ano escolar dos filhos dela? Será que os filhos dos professores não têm direito à estabilidade exigida pela ministra apenas pela escolha da profissão dos pais?