Este ano lectivo 2007/2008 tive, pelo segundo ano consecutivo, atribuido um bloco da componente não lectiva para desenvolver o Projecto da Horta Pedagógica. Iniciei este projecto há já uns anos, noutra escola, noutro contexto, apenas para "aproveitar" as plantas que produzíamos na extinta disciplina de Técnicas Laboratoriais de Biologia. Nessa altura, porque não gosto de deitar fora qualquer tipo de ser vivo, fui com os alunos a um dos muitos canteiros abandonados da escola e começámos a embelezá-lo. Depois de o estar a utilizar há já uns meses, em conversa com o responsável de curso de Jardinagem, falei do assunto. Ele ficou deliciado, porque era o único que arranjava o espaço exterior da escola e não conseguia tratá-lo todo. Imediatamente foi comigo ver o espaço que eu tinha ocupado, ficou contente por ver que o tinhamos limpo de ervas daninhas e que já começava a aparentar ser um espaço cuidado. Disse-me que poderia ocupar aquele canteiro todo e que, se quisesse e tivesse tempo, os dois outros próximos deste, também poderiam ser utilizados. Fiquei deliciada, desde sempre que me conheço que guardo as sementes da fruta que como, quando ela é boa, e planto-as aonde e como posso. Disse-lhe que se me cedia todo esse espaço, então iria iniciar uma Horta Biológica.
Assim o fiz.
E apesar de este projecto ser feito no meu próprio tempo, (ia quando e durante o pouco tempo que podia dispender) resultou a 100%. Não só os alunos da disciplina de TLB participavam, trazendo sementes, semeando, plantando e cuidando do espaço, dando ideias do que devíamos plantar, ensinando truques que aprenderam com os avós (sim, a escola era numa zona rural), como os alunos do 10ºano (Biologia-Geologia) começaram a querer participar. Arranjei árvores de fruto que eles plantaram e trataram durante todo o ano lectivo. Limparam os canteiros e fizeram escalas para que o espaço estivesse sempre regado. Aproveitei para utilizar este espaço para levar os alunos, que não conhecia, das turmas a que tinha que ir fazer substituições por os seus professores terem faltado. No início, os alunos achavam estranho, diziam-me com alguma frequência que não tinham vindo para a escola para andar a regar e a apanhar ervas daninhas mas, à medida que o tempo passava, sempre que tinha uma substituição, os alunos, esperavam à porta do respectivo bloco e ouvia-os dizer:
Fixe, hoje vamos para a horta. No ano seguinte, já com o projecto contemplado no meu horário, mudei de escola. São as coisas que acontecem a um professor vinculado a uma Zona Pedagógica como eu. Deveria ter ficado na escola mas, as peculiaridades do concurso fizeram-me ir para a escola onde agora me encontro.
Aqui, a primeira coisa que fiz foi visitar os espaços exteriores para ver se seria possível desenvolver o mesmo projecto. Planifiquei-o, apresentei-o ao Conselho Executivo e foi-me atribuido um bloco para que o desenvolvesse. Enquadrei-o na disciplina de Biologia Humana, do curso de Desporto, no capítulo da nutrição. Não podia, portanto, plantar senão alimentos. Novamente, arranjei árvores de fruto, sementes de produtos hortícolas, terra e ocupei o espaço que me foi cedido, debaixo de um pinheiro. Não propriamente o espaço mais apropriado mas, a cavalo dado não se olha o dente e lá fui utilizá-lo. A turma com que o iria desenvolver era muito desmotivada e bastante conflituosa com os professores. O início do ano foi horrível disciplinarmente. Todos os dias acontecia qualquer coisa com um dos professores que quase nos fazia desistir deles. Um dia, depois de terem entrado feitos loucos na minha aula, resolvi que os ia pôr a apanhar ervas daninhas como castigo. Tinha acabado de pôr estrume no campo, e aquela zona estava toda intragável. Eles, com as suas roupas de marcas, ténis XPTO, não queriam entrar ali, mas fizeram-no, devagar, aos poucos, todos começaram a colaborar. Aproveitei para tirar a foto da turma como sempre o faço, e a tarde acabou por ser bastante agradável para todos. O que tinha começado como um castigo, tinha-se tornado nuam aula maravilhosa para todos. No final, sentamo-nos e decidimos a forma como iriam participar neste projecto. Eles já não queriam vir à horta apenas durante o capítulo da nutrição, mas queriam fazê-lo de forma mais contínua. E assim aconteceu. Readaptamos o programa de forma a que pudessemos dispensar mais aulas para este projecto, e acabamos não só com bons resultados escolares mas, melhor ainda, com uma excelente relação entre professores e alunos. Adorei tê-los tido como alunos.
No ano seguinte, outra vez na mesma escola, não fiquei com essa turma devido a algumas contrariedades de que não vale a pena falar. Além do bloco que tinha já desde o ano anterior, foi-me ainda atribuido mais meio bloco não lectivo. Podia assim ir para este espaço durante dois dias da semana. Tive que readaptar o projecto para que coubesse nos currículos das novas turmas agora atribuidas e fi-lo para as turmas onde leccionava Normas e Sistemas de Gestão Ambiental. Também aqui os alunos eram difíceis. Pertenciam a turmas dos Cursos de Educação e Formação - CEF, de 8º e 9º anos mas com idades que iam até aos 18 anos. Resultou novamente. Percebi com o tempo que estas aulas práticas, em espaço exterior, fora da sala de aula permitiam estabelecer uma diferente relação entre professor e alunos que era benéfica para ambos. Os alunos lucravam imenso nas suas aprendizagens e, a mim, facilitava-me o trabalho por deixar de ter que perder tempo com sermões acerca de comportamentos.
Planeei para este ano torná-lo um projecto vertical, englobando não só diferentes grupos dentro da escola, como as escolas desde o jardim de infância, para que os miúdos pudessem perceber como crescem os legumes que comem à mesa. Foram previstas sessões teóricas de aprendizagem, sessões práticas na horta propriamente dita, sessões de confecção dos alimentos produzidos, sessões com especialistas em diabetes, em agricultura biológica, etc e o projecto foi apresentado ao Conselho Executivo no final do ano.
Para este ano lectivo, que começou a 1 de Setembro, sabia que iria ter noites novamente. Desta vez não tive nenhuma turma do ensino diurno. Foram-me atribuidas 3 turmas de EFAs - Educação e Formação de Adultos (de que falei no post anterior) e a continuidade da minha turma de 10º ano nocturno por módulos capitalizáveis. Fiquei satisfeita com a mancha horária, porque, por ser a última do grupo, sabia que não me conseguia escapar das noites e, desta forma, conseguiria passar mais tempo em casa, dando um bocadito mais de atenção aos meus três queijinhos pequeninos. A seguir fiquei espantada e desiludida por ver como, de facto, funcionam os EFA. Entretanto, como é o meu normal, achei que
no fim bate sempre tudo certo e a coisa iria correr bem, até que, ontem, por estar com dúvidas sobre o que queria dizer um Centro de Recursos que tinha na minha componente não lectiva, me dirigi ao Conselho Executivo para perguntar o que tinha que fazer nesse tempo. Foi-me explicado e aproveitei para perguntar se a sigla que tinha numa das tardes era a minha Horta Pedagógica. A resposta deixou-me até agora estupefacta:
Não tens alunos de dia, não tens Horta Pedagógica! E assim se termina um projecto de 3 anos. O mais espantoso é que na minha área disciplinar - Biologia/ Geologia, desde sempre foram feitos projectos e clubes sem que os professores tivessem tempo e /ou alunos para eles. Cabia ao professor conseguir angariar alunos para o realizar, e isso sempre foi conseguido. Não consigo perceber o porquê desta decisão. Sobretudo quando é sabido por todos que a minha sanidade enquanto professora, depende daquela horinha por semana em que me posso encher de lama ou de sachos e enxadas e gastar as minhas energias nuns quantos metros de terra.
Isto não aconteceu apenas comigo, aconteceu o mesmo ou parecido com muitos dos meus colegas. Reduziram-lhes ou retiraram-lhes projectos, não foram atribuidas continuidades pedagógicas, nem respeitadas as escolhas dos horários decididas nos grupos disciplinares, entre muitas outras coisas. O que me espanta, no meio disto tudo, é verificar que a escola, apesar de querer muito ser a escola do futuro, continua a ter aquela visão pequenina e mesquinha, de quem não sabe adaptar-se e, muito menos perceber aquilo que a faria ser grande, de facto, ie, ter um corpo docente que respeitasse e percebesse as decisões do Executivo e, não apenas que as cumprisse porque a isso está obrigado. Como anteriormente termino, dizendo-vos:
Quereis ser pequenos, minúsculos, desprezáveis, pois sejam! A vida continua!