Fui eu tirar meia horita de descanso para o café, antes do Z. ir trabalhar, com o meu Moleskine, um lápis de carvão, uma caixa de lápis de cor e o tema Fat a bamborilar-me na cabeça, quando me aconteceu a coisa mais espantosa dos últimos dias. Sentei-me, pedi o meu garoto escuro e morno, um copo de água para molhar o bico, abri o caderno, peguei no lápis e desatei, furiosamente, a fazer riscos e riscos, a ver se me saía uma gorda. E foi saindo, estava a gostar do que via e a pensar: Isto do Illustration Friday têm-me feito muito bem, já não são sempre os mesmos desenhos... Eis senão quando, um dos senhores que falava em altos berros na mesa da frente, onde já estavam todos meio cafeteiras, levanta-se, vai à casa de banho e, quando volta, olha para o meu caderno e senta-se à minha mesa a olhar fixamente para o que eu estava a fazer. Levantei os olhos, disse-lhe boa noite, que a minha mãe ensinou-me a ser educada, ele respondeu e continuou a olhar fixamente para o caderno. Tresandava a cerveja com aquele hálito horrível de cafeteirão quase a cair para o lado, e eu... não sei porquê, em vez de implicar com ele, continuei a desenhar. Fui utilizando os dedos como se fossem esfuminhos e então ele disse-me: A senhora tem a certeza do que está a fazer? Eu disse-lhe que sim, sem saber ao que ele se referia e continuei. Repetiu a questão uma dúzia de vezes, obtendo sempre a mesma resposta, até que finalmente lhe perguntei: Mas porquê que diz isso? Desatou a língua, era o que ele queria. Disse-me que já tinha trabalhado em desenho, em passagens de modelos e que eu lhe devia telefonar, qualquer dia da semana, entre as dez e o meio dia e meia... para perceber o que estava a fazer... Continuei a não perceber... Então finalmente pediu-me o lápis e um papel, dei-lhe o lápis e disse que podia escrever na outra página, escreveu Silva, número de telemóvel, podes ligar das 10,00h às 12,30h. Finalmente, explicou-se: Nas passagens de modelos há sempre duas pessoas, uma desenha o corpo todo nú e outra enche com roupa e eu tinha feito as duas coisas e ele nunca tinha visto isso... Disse-me que eu não sabia pintar, e de facto tem razão, eu nem sei muito bem, vou inventando aqui e ali, aldrabando noutros lados mas, normalmente, até gosto do resultado final. Consigo detectar as imperfeições, por isso, pelo menos consigo ser crítica sobre o que faço. Continuou a fazer críticas, que eu achei serem construtivas, e finalmente disse-me: Tu até desenhas bem o nariz!... Cá para mim o hálito condizia com o que se lhe passava pelo cérebro, eu até acho que o nariz está muito abatatado, larguíssimo... Pediu-me então para me ensinar a pintar e eu, nem sei como, deixei. Já tinha feito umas sombras com encarnado na camisa, ele pega no lápis amarelo (deu-se-me uma coisinha má...) e começa a passarinhar com ele pelo desenho, depois foi mudando a cor, sempre a explicar o que estava a fazer e, a camisa foi ganhando cores, volumes... Falou, falou, pediu-me novamente o telefone, disse-lhe que não sabia de cor, mudou de ideias e disse-me que lhe podia telefonar 24/24 h, levantou-se e foi para a mesa dele e, como se nunca tivesse estado ali, retomou a conversa onde a deixara...
segunda-feira, maio 08, 2006
Illustration Friday ou O Silva...
Fui eu tirar meia horita de descanso para o café, antes do Z. ir trabalhar, com o meu Moleskine, um lápis de carvão, uma caixa de lápis de cor e o tema Fat a bamborilar-me na cabeça, quando me aconteceu a coisa mais espantosa dos últimos dias. Sentei-me, pedi o meu garoto escuro e morno, um copo de água para molhar o bico, abri o caderno, peguei no lápis e desatei, furiosamente, a fazer riscos e riscos, a ver se me saía uma gorda. E foi saindo, estava a gostar do que via e a pensar: Isto do Illustration Friday têm-me feito muito bem, já não são sempre os mesmos desenhos... Eis senão quando, um dos senhores que falava em altos berros na mesa da frente, onde já estavam todos meio cafeteiras, levanta-se, vai à casa de banho e, quando volta, olha para o meu caderno e senta-se à minha mesa a olhar fixamente para o que eu estava a fazer. Levantei os olhos, disse-lhe boa noite, que a minha mãe ensinou-me a ser educada, ele respondeu e continuou a olhar fixamente para o caderno. Tresandava a cerveja com aquele hálito horrível de cafeteirão quase a cair para o lado, e eu... não sei porquê, em vez de implicar com ele, continuei a desenhar. Fui utilizando os dedos como se fossem esfuminhos e então ele disse-me: A senhora tem a certeza do que está a fazer? Eu disse-lhe que sim, sem saber ao que ele se referia e continuei. Repetiu a questão uma dúzia de vezes, obtendo sempre a mesma resposta, até que finalmente lhe perguntei: Mas porquê que diz isso? Desatou a língua, era o que ele queria. Disse-me que já tinha trabalhado em desenho, em passagens de modelos e que eu lhe devia telefonar, qualquer dia da semana, entre as dez e o meio dia e meia... para perceber o que estava a fazer... Continuei a não perceber... Então finalmente pediu-me o lápis e um papel, dei-lhe o lápis e disse que podia escrever na outra página, escreveu Silva, número de telemóvel, podes ligar das 10,00h às 12,30h. Finalmente, explicou-se: Nas passagens de modelos há sempre duas pessoas, uma desenha o corpo todo nú e outra enche com roupa e eu tinha feito as duas coisas e ele nunca tinha visto isso... Disse-me que eu não sabia pintar, e de facto tem razão, eu nem sei muito bem, vou inventando aqui e ali, aldrabando noutros lados mas, normalmente, até gosto do resultado final. Consigo detectar as imperfeições, por isso, pelo menos consigo ser crítica sobre o que faço. Continuou a fazer críticas, que eu achei serem construtivas, e finalmente disse-me: Tu até desenhas bem o nariz!... Cá para mim o hálito condizia com o que se lhe passava pelo cérebro, eu até acho que o nariz está muito abatatado, larguíssimo... Pediu-me então para me ensinar a pintar e eu, nem sei como, deixei. Já tinha feito umas sombras com encarnado na camisa, ele pega no lápis amarelo (deu-se-me uma coisinha má...) e começa a passarinhar com ele pelo desenho, depois foi mudando a cor, sempre a explicar o que estava a fazer e, a camisa foi ganhando cores, volumes... Falou, falou, pediu-me novamente o telefone, disse-lhe que não sabia de cor, mudou de ideias e disse-me que lhe podia telefonar 24/24 h, levantou-se e foi para a mesa dele e, como se nunca tivesse estado ali, retomou a conversa onde a deixara...
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5 comentários:
Bolas, só eu aqui no meu cantinho é que n tenho conversas interessantes destas. :P
Fantástico! Quem me dera uma experiencia dessas...
Então foi um parto a dois?
E não é que o resultado foi uma maravilha?
E outra coisa, na sabes desenhar? ó bolas.......
Não, desenhar eu sei, pintar é que não...
:)
Gostei!!! :o)) Bjoquices!
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